top of page
Kantuta.jpg

Praça Kantuta

Marco Zero da Bolívia em São Paulo

Feira da Rua Kantuta

Praça Kantuta (altura do nº 625 da rua Pedro Vicente) - Pari

Domingos, 11h às 19h

É na Praça Kantuta que acontece a maior feira de encontro de bolivianos de São Paulo. Os imigrantes acreditam que a cultura não deve ser perdida, sendo assim, todos os domingos realizam diferentes eventos e atrações, como danças folclóricas, desfile de moda, festas de dia das mães, festa com palhaços para as crianças, banda ao vivo e comemorações de aniversários.

No dia que fomos visitar a feira, aconteceu o segundo festival de danças folclóricas bolivianas. Ao total, cinco danças foram apresentadas. Conversamos com a organizadora de eventos, Sandy Molina, que nos contou detalhes específicos das danças bolivianas.

Fotos por Bruna Santana

Uma das danças foi a Macueca, fortemente presente em três cidades bolivianas: La Paz, Cochabamba e em Tarija. Essa dança é um cortejo entre mulher e homem. Sandy explicou que na Bolívia eles entendem que a forma mais sutil de um homem conquistar uma mulher é pela dança.

A tradicional dança da cidade de Cochabamba, conhecida como Salai, também trata-se de um cortejo, porém mais agitada com passos duplos. A terceira dança foi a Quincos, da cidade de Potosí. A expressão corporal representa dois povos conflituosos. Todo ano, no dia 5 de maio, acontece uma festa e justamente nesse dia, os povos se encontram, bebem muito, e no final entram em luta corporal. Essa luta é representada na dança.

Já a última apresentação é da cidade de Oruro, e se chama Diablada. Essa dança representa o bem e o mal, com demônio e o anjo. Ela representa que o anjo (bem) vencerá o mal.

Apresentação do grupo Tinkus Wayna Lisos, vencedores do festival

UMA BOLÍVIA EM SÃO PAULO

Uma curiosidade que descobrimos ao chegarmos na feira é que ela recebe o nome de uma flor típica da Bolívia, Kantuta. A flor tem as mesmas cores da bandeira do país (verde, vermelho e amarelo). O nome da praça foi solicitado pela comunidade local e concedido no governo da prefeita Marta Suplicy.

Fotos por Bruna Santana

CONTRATEMPOS NA PRAÇA KANTUTA

A feira passa por algumas dificuldades, “é uma associação que cada sócio paga em torno de 100 a 150 reais por mês. Com isso a gente paga segurança, água, luz”, diz Carlos Santos, ex-presidente da feira. “A gente trabalha sem documentação ainda, estamos arrumando a documentação, CNPJ”, explica Marcelo Laura, atual presidente da feira.

Atualmente, a feira tem banheiros precários. O banheiro masculino por exemplo, não tem torneira para lavar as mãos. Existe apenas um balde com água onde os homens lavam as mãos após usar o banheiro.

Além desses embaraços, a concorrência atualmente também é um problema pra Kantuta “Antigamente só tinha um lugar que era só a praça Kantuta. Hoje temos Kantuta, Coimbra, Penha, Guarulhos, Carapicuíba, Itaquaquecetuba... o boliviano esparramou”, explica Carlos. “A gente sempre tenta melhorar os preços para atrair público, isso não é fácil. Vem turista que acham um pouco caro e turistas não voltam, né?!” diz Marcelo.

IMG_0924.JPG

Sandy Molina

O que era para ser três meses no Brasil se tornaram quatorze anos. Sandy deixou a Bolívia em 2004, após ela e seu marido serem demitidos quando a empresa onde trabalhavam decretou falência. A taxa de desemprego na Bolívia era alta, sua filha tinha um ano e sete meses e a família precisava de dinheiro. “Eu trabalhava em uma empresa têxtil, a gente foi demitido, foram quase 100 pessoas demitidos lá. A gente não sabia o que ia fazer porque não tinha emprego naquela época, estava bem difícil a situação”.

Assim que chegou ao Brasil ligou para seu amigo Luís Cocarico, que iria ajudá-la, porém outra pessoa atendeu ao telefone, uma senhora, dizendo que ele tinha mudado de endereço. Essa mesma senhora fez algumas perguntas à Sandy e se prontificou falando que ela poderia morar em sua casa e trabalhar com ela fazendo calças.

Sandy aceitou, porém foi escravizada nessa casa por três meses. Não podia sair de casa, a porta era fechada por cadeado. “Começamos a trabalhar e as peças que fazia era calças de mulher e ela me pagava 15 centavos por calça. Eu achei muito barato, no fim do mês que trabalhamos lá percebemos que o trabalho era muito pesado. A gente entrava às 07hrs e terminava 02hrs da manhã de segunda a segunda sem descanso. Pelo menos eu ia ver no fim do mês o quanto eu ia ganhar. Quando chegou no fim do mês eu tirei R$170. Eu quase chorei”.

Foi ouvindo uma rádio clandestina que Sandy ouviu o nome do seu amigo, ligou pra ele e saiu da casa. “Foi muito chocante a situação lá, mas eu consegui sair”. Após isso, Sandy trabalhou em outros três empregos.

Assim que juntaram um dinheiro, ela e seu marido conseguiram comprar máquinas de costura, alugaram uma casa e abriram seu próprio negócio. Para ajudar na mão de obra, Sandy trouxe pro Brasil toda sua família, que no momento estavam desempregados. Atualmente ela trabalha em sua própria oficina, estuda enfermagem, é coordenadora de eventos da feira Kantuta e aos domingos trabalha na feira com uma barraca de sorvetes.
 

Quando questionada sobre se deseja voltar para a Bolívia, Sandy diz “Acho que o brasileiro aceita mais um estrangeiro europeu, branco dos olhos verdes do que a gente que é baixinho e moreno. Quem sabe um dia volto para lá e me sinto em casa”. 
 

Inti Román

IMG_2065.JPG

Voz segura, olhar profundo e muita paciência. As primeiras impressões de Inti Román foram determinantes para conhecermos sua história de vida.

Em 1957, começou a história de Román no Brasil, especificamente em SP. Recém-chegado na cidade grande, com seus 14 anos, Inti Román achou que eram dias de festa na metrópole pela agitação da população. À procura de um local para sua estada, Román pediu para trabalhar de graça em uma pensão onde estavam seus amigos, e assim, estar próximo de seus conterrâneos. Passado algum tempo, Inti apenas sobrevivia em terras paulistanas, e então percebeu que sua vida não tomava um rumo promissor. Mudou-se para o Rio de Janeiro. Contando suas histórias com naturalidade, o índio boliviano carrega um curioso sotaque carioca, herança de muitos anos na 'Cidade Maravilhosa'.

Um apaixonado por sua descendência e grande difusor de sua cultura, Román é um daqueles filósofos contemporâneos, que com poucas palavras fazem refletir e encantar seu público em sua barraca de artesanato com obras de pontilhismo feitas em metal com o martelar de um prego.

“(Nasci) Aqui no Planeta terra igual você! Em Cochabamba. As pessoas que inventaram fronteiras, faziam isso para ganhar grana e separar as pessoas, estamos todos no mesmo barco chamado planeta terra para a pessoa pensar assim de onde você é? Eu venho de uma constelação para prosseguir viagem para meu espírito prosseguir viagem. Eu tiro uns sarros legais, para as pessoas pensarem...”

Mas Román não é somente filósofo e artista plástico, mas também músico, palestrante e xamã andino. E é justamente sobre essa última característica que o índio atrai público para longas conversas. O Xamanismo é uma prática religiosa ancestral que se baseia em rituais de magia e evocações entre corpos e espíritos de outros xamãs, animais, mortos e seres místicos. Román explica que pratica os rituais em locais isolados, com horário marcado e com plena intenção de seus assistidos a fim de provocar a cura de determinadas doenças e promover a harmonia espiritual.

Román é um andarilho. Já rodou o México com um grupo de teatro e conheceu 18 estados do Brasil. Com roupas largas e sua inseparável bolsa de tecido pendurada ao pescoço, Inti se revolta ao lembrar como a cultura de seu povo veio se perdendo ao longo dos anos e tornou-se menos identificada por seus conterrâneos. Perguntado se acredita os bolivianos tenham vergonha de sua cultura..."Sim, eles preferem falar um portunhol que inventaram em vez de falar o aimará, que é a língua oficial da Bolívia ".

O índio resiste como o único artesão da Praça Kantuta. Román resiste com sua arte e não se entregou a trabalhos operacionais como a costura. Inti Román é resistência de sua cultura.

OUTROS LOCAIS BOLIVIANOS EM SÃO PAULO

© 2023 por Nome do Site. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook Social Icon
  • Twitter Social Icon
  • Google+ Social Icon
bottom of page